Podemos nos desenvolver de diferentes maneiras — através da imaginação, coragem e responsabilidade, ou nos conectando com a natureza e trabalhando com as estações do ano; mas o maior poder para mudança é aquele do amor.
O amor é a força maior na transformação da vida. Como podemos desenvolver amor? Há três capacidades que necessitamos para desenvolver de maneira que o amor se torne um caminho de vida.
A primeira é a capacidade de ver o divino em cada ser humano. Quem é esta pessoa que está diante de mim? Eu posso ver além de sua aparência física, ocupação, personalidade, além de sua raça e nacionalidade? Posso ver a integridade do espírito humano brilhando através de cada pessoa? Como
Satish Kumar, editor da revista Resurgence, expressou:
Se caminho como um Hindu, encontro um Muçulmano, um Cristão ou um Judeu;
Se caminho como um Indiano, encontro um Paquistanês, um Chinês ou um Americano;
Se caminho como um seguidor de Gandhi, encontro um socialista, um capitalista ou um comunista;
Mas se caminho como um ser humano, encontro seres humanos em todo lugar.
A segunda é a capacidade de experimentar o sofrimento dos outros como se fosse o nosso.
A terceira capacidade é poder atingir o equilíbrio em nosso pensar, sentir e querer. Além do equilíbrio das forças anímicas, o amor desperta em nosso interior.
- No pensar equilibrado, entendemos e respeitamos as razões das outras pessoas para fazer o que fazem.
- No sentir equilibrado, desenvolvemos empatia e simpatia.
- No querer equilibrado, nos responsabilizamos por nossas ações e temos a coragem e a vontade de perdoarmos aos outros bem como a nós mesmos.
O amor é algo fácil de falar e difícil de realizar. Desenvolver capacidades para o amor é tarefa de uma vida. A chave para essa tarefa é superar a preocupação com nós mesmos que nos impede de nos conectarmos com nossos companheiros humanos. Se estamos presos em nós mesmos, não podemos caminhar à frente.
SETE ESTÁGIOS DO AMOR
Há sete estágios do amor que correspondem aos estágios de nosso desenvolvimento — calor, afeto, desejo, respeito, devoção, cura e sacrifício.
1. No primeiro estágio, experimentamos o amor através do calor. Nós o percebemos como uma sensação física. O calor nos alimenta e nos ajuda a crescer. Quase podemos mensurar o calor das pessoas quando as encontramos. Uma pessoa exsuda calor ou frieza? Nos encontramos respondendo à sua “temperatura anímica”. Podemos expressar calor sem direcioná-lo para uma
determinada pessoa. Alguns indivíduos são cálidos na maneira como abordam o mundo; outros são frios. Pode ou não estar conectado com um relacionamento em particular. Como crianças, dependemos do calor de nossos pais para formar a base do sentido de segurança.
2. Quando desenvolvemos relacionamentos com nossos pais e os que nos rodeiam, experimentamos afeto. Isto é menos tangível que o calor, mais sutil, mais envolvente. Pessoas expressam afeto através de um sorriso, um tapinha nas costas, um abraço, um beijo. Através desses gestos confirmam a outra pessoa e comunicam sua consciência e suporte. O afeto é a comunicação real do calor, dirigido a um objeto específico.
3. Como nossas forças anímicas despertam na adolescência, assim ocorre com o desejo. Experimentamos necessidade, um senso de que algo nos falta e necessitamos dele desesperadamente, seja uma prancha de skate, um ingresso para um concerto ou um relacionamento. Diferentemente dos estágios 1 e 2 nos quais o calor e o afeto vêm até nós, o desejo aflora de nosso interior. Além de
nossa vida emocional pessoal, o desejo nos alcança, traz o que está fora para nossa interioridade.
Como saciarmos os nossos desejos? Dizemos “Oh! Que lindo!” sobre um vestido na vitrine de uma loja ou sobre um carro numa concessionária. O que realmente queremos dizer é “Quero isso para mim”. Nós gostamos tanto que queremos possuí-lo. Podemos fazer o mesmo com outros seres humanos. Podemos confundir amor com desejo, e quando o desejo for satisfeito, o relacionamento
pode terminar. Em si mesmo, o desejo nunca é suficiente. Apesar disto, o desejo desperta o que nos atrai; ele nos motiva para a ação. Ele pode nos levar ao amor. No entanto quando ele nos envolve brutalmente, pode se tornar uma obsessão, nos consumindo e destruindo o nosso poder de amar.
4. Quando nos movemos além do desejo para um conhecimento e reconhecimento da outra pessoa, nos movemos para o quarto estágio do amor. Aqui vemos o outro como uma mistura de forças e fraquezas, exatamente como somos. Reconhecemos o que temos em comum, a humanidade, que partilhamos com a outra pessoa, que nos permite tratá-la com respeito, o mesmo respeito com que desejamos ser tratado. Isso nos tira de nós mesmos em direção ao outro ser humano.
5. O quinto estágio nos leva além do outro, além do reconhecimento e respeito para a reverência.
Nossas próprias forças anímicas de devoção são produzidas enquanto estimamos, protegemos, honramos e celebramos outra pessoa.
6. Quando nos envolvemos com o ser real da outra pessoa, um novo estágio desperta — aquele da cura, no sentido de “tornar íntegro”. Sentimos o que a outra pessoa necessita para se tornar inteiro e completo e buscamos formas de servi-la quando necessário.
7. O sétimo estágio é aquele do sacrifício, em que desistimos de nós mesmos pelo amor do outro. É o mais nobre ato da vida humana. Ninguém espera ser confrontado com a necessidade de se sacrificar, mas se tal ocorrer, responderemos com prontidão.
Cada um de nós em nossas vidas experimenta elementos desses sete estágios. Cada um dos estágios também apresenta o seu outro lado, o seu “duplo”. Por exemplo, podemos pensar estarmos agindo em um impulso de amor, mas realmente podemos estar motivados pelo egoísmo ou falsa generosidade. Desenvolver a nós mesmos ao longo do caminho dos sete estágios do amor nos convoca a sermos conscientes e reflexivos, a sermos honestos com nossas individualidades e capazes de auto-correção. Em cada estágio, somos convocados para perdoar os outros que não nos amaram ou que souberam ou não o prejuízo que nos causaram. O perdão libera forças criativas que podem ser utilizadas na resolução de problemas, cultivar novos relacionamentos e superar situações difíceis.
Nossa própria habilidade para amar não pode florescer até que, ao menos, formos capazes de perdoar.
O AMOR É O PRESENTE FINAL DA TRAMA DA ALMA
O amor é a substância criativa mais poderosa de nossas almas. Quando um tecelão prepara o tear e, pacientemente, trabalha com a lançadeira, ele dá toda a atenção para o seu trabalho. Assim, também, quando tecemos a tapeçaria de nossa vida, devemos estar atentos aos padrões, à qualidade de nossos relacionamentos, aos nossos objetivos e conquistas, à nossa habilidade de aceitar e de perdoar.
Quando a tapeçaria estiver completa e chegar a hora de dizer adeus para a vida, espera-se sermos capazes de olhar para trás e dizer: “A coisa mais importante que aprendi na vida foi como amar.”